Os ponteiros tanto andam, e as horas são chamadas,
Ruídos
Fumos
Dentes
Pés
E é tudo o que rodeia.
O que enrola desenrola
O que beija já despeja
E o que vive já não vive
Porque o choro já não é!
Já não é já não vê,
Já não tem já não quer.
Ele caí ela tropeça
E o sangue não derrama,
Já não chove o sol fugiu
Foi um pedaço de vida.
Já não sei foi quem subiu
Foi a escada descida.
A porta à pouco bateu
E o desejo foi cumprido,
Sem um grito ´
Sem um tiro
Sem puxar o que prefiro.
Sem cabeça
Sem um treino
Sem cadeira de reino.
Ele cai ela tropeça
E o sangue não derrama,
Já não chove o sol fugiu
Foi um pedaço de vida.
O relógio apitou
O céu tem que se apressar,
Um roteiro de cansaço
Um estranho a vaguear,
Quando o banco está sozinho
É p'ra desconfiar,
Já não senta
Já não olha
Já não pode sonhar.
Se está sujo
Se está velho
Já não tem que saber,
Dobra a esquina e acelera
O trajecto é prazer.
Ele cai ela tropeça
E o sangue derrama,
Já não chove o sol fugiu
Foi um pedaço de vida.
Miguel Ângelo