Miguel Ângelo

Quem sou eu

sexta-feira, janeiro 02, 2009


Na minha consternação...

O vulgo não cabia no meu plano.
o trajecto tornado ondular deslocou os tons que via outrora,
a prancha horizontal parecia rejeitar todos os membros que tenho, que profusão de células criativas;
a selva, as maçãs que ora nascem e logo pendem, sujem-se de barro
vejam "quem avilta a chuva", pobre momento de estar molhado
partam-se os copos desses líquidos diábos
ponham no forno as cabeças, crocantes se tornem todos os pensamentos,
não aguento as pepitas deste instante.


Perdi o tema da reunião...perdão meus caros "condiscípulos",
tornei redondo o meu sentido,
lancei o pisca á primeira saída,
a ponte...


Ágil e invisível o ilustre bailarino que respiro, tudo se torna perigoso.
o piso ressona singularidade,
a luz vai desvanescendo com a temperatura
ao contrario a solidão,
em busca remota de ti, o meu troço de militares torna-se inútil, inimigo.


Na ponte, já sinto a maré bem perto,





sai-me dos olhos . . .








a impotência soa levemente com o pender da articulação,
a distância do nosso abraço.
"A ausência" subtrai-me o caminho,
cerra-se a noite
os olhos,
e cai-se no escuro deste deambular,
na saudade

a funda consternação.

domingo, dezembro 21, 2008






















Ninguém parou o carro p'ra banda passar.....a fruta em redor torna-se plateia,
acariciam o piso plebeu as nobres patas dos corpos matinais, o meu,
ressona ao ritmo de uma estilizada refeição em que o único sustento, o mar gástrico não provará.


Gasto um tubo de tinta nas paginas de mente aberta, abro o espaço sensível,

e sigo as arestas do meu combustível...

O verde tingiu-me o olhar, ora andemos...
Cautelosamente avançam a maioria das bengalas que vejo, o antónimo dos meus passos...
Sinto-me passageiro de sinal intermitente,
piso os traços contínuos das estradas,
imagino portagens, e a via, é mais do que verde...

Vou consumir o transito das ruas
derramando nas montras o vernis da minha bengala:

ácido forte

azedo apetecível

pingos adocicados
temperos que deixo inundar as cidades desprotegidas....
miguel angelo



sábado, julho 19, 2008


Os degraus das escadas do espaço inteiro, do mundo. Aqueles que lhes tomam o poder e se elevam, aqueles que desconhecem a vertigem, caminham sobre o declínio, a descida. Estão todos de olhos abertos, aqueles que vejo e que sobem, e os que descem. As escadas são as mesmas, os olhos as asas, o trajecto delas. Agora estou fechado sobre as linhas do pé ao imenso desfocado, até que o dia também se fechou, e eu prossigo.
Os pés, porfio que subam mais longe que ontem, sei que quero e seduzido procuro mais acima a maior distância da minha sombra. Desfoco a imagem dos alicerces humanos, sinto que as protecções me abraçam as pernas, no entanto ofereço a consciência em troca do desvario. As plantas elevam-me e fico dormente, vou deixando gradualmente espectros de luz invadirem a segurança, a vertigem parece cantar e bailar com os meus sentidos, o sonho, a ambição, o desejo, o coração, abriram as asas de Ícaro ao destino da ousadia.
Miguel Ângelo

sábado, janeiro 19, 2008


O meu nascimento


Sentado e Descansando, o gerúndio vai tomando conta de mim. Deitando os olhos sobre o piso molhado. Vejo as pingas continuarem, e vai parecendo um ritmo como a noite apareceu. Como eu esperando o comboio também minha mãe me esperou. De certo o barulho da grande máquina a vapor se pode comparar com os meus gritos que apenas expressavam uma grande vontade de viver.
O percurso dói, no comboio também depois do salto diário que atravessa o rio Tejo e me deixa cansado, mas dói atenuado pela voz que virá. Esperança para quem está de esperanças, um pouco mais de sensibilidade, vontades e desejos espontâneos, o gosto e cheiro parecem especiais, a fadiga parece instalar-se, e uma enorme lista de sensações que não pode faltar para a confirmação.
Eu fui um feto pintado ao som do improviso, fui um risco mais largo que a área da tela, no entanto não impediram a minha chegada, como hoje eu não impeço as pingas continuadas que vejo, estas que me falam enquanto espero o comboio que me levará até à progenitora em questão. Vinte anos e uma barriga pesada, mais uma vida na cama de casal, em vês de dois são três. Já me sinto companhia, até porque já vou tendo coração, são dias principiantes, nove meses custam a passar quando para mim o espaço vai sendo mais pequeno, e lá vão mais uns pontapés.
Pretendo quebrar a rotina e desafiar a gravidade com o fim da gravidez. É agora que o espaço não chega, e preciso ver estas vozes que tenho ouvido. De género confirmado e nome projectado são horas de espernear, as dores e contracções são o eixo dos movimentos, próxima estação: Maternidade Alfredo da Costa. A ruptura das águas traz ansiedade aos expectantes, e eu…dia trinta do mês de Janeiro de 1990, a luz, os ajudantes equipados, a família reunida, a mãe, pertencem ao cenário do meu primeiro dia.
Chegou o comboio e a sua hora, parou de chover e as pingas escorrem do telhado, escondo-me na camisola, e só me resta decidir se entro no percurso, pode doer, pode enjoar, no entanto o gosto e o cheiro podem ficar especiais…

sexta-feira, dezembro 14, 2007



Paradoxos interrompidos durante a vertigem.
Sobre a corda que montaste os passos são desfocados, sinto a sola dos sapatos que não tenho, abro os olhos p’ralém do hábito, desencontro-me. Esta não é a minha casa, e a resistência sai-me nas gotas da testa, abri os braços a espera que o tempo me segurasse, olho para baixo, a ausência da vertigem terminou.
Paras tu e eu contigo, surge o desequilíbrio e a noção de lugar fica de fora.
O medo cai-me nos bolsos, os meus movimentos áridos tornam-se fundamentais à sobrevivência, o chapéu já me caiu, e os meus cabelos insípidos podem tornar-se bailados. A escrita deste caminho, sobre o fino solo sem lados nem fundo projecta salgados que me escorrem no rosto, cada contracção parece deixar-me agradecido, balanços na máxima incerteza distraem o “teu” caminho e cozem-me à chegada.





Miguel Ângelo

quarta-feira, setembro 26, 2007


Choram por dentro, de fora,
P'ra fora do peito que cabe no estreito coração de Luísa.
Descalça ela sobe de saia estendida,
de cara lavada,
cabeça erguida,
cabelo que voa,
ruas de Lisboa cafés de cristal.
Roubam por dentro e por fora,
Pra fora do jeito que cabe no peito de Luísa.
Calçada ela dança, balança e alcança o fresco do sol.
Demora na loja,
corpinho de soja que traz alimento
aos pombos da rua.
Agradam por dentro, por fora e p'ra fora do mar de Luísa.
São peixes de aquário,
são imaginário,
são do mostruário de conchas partidas.
Luísa nada,
beijos na almofada e sorrisos de lã.


Perdidas na vida,
as conhas partidas...


Luísa nada. No mar entranhada...
Miguel Ângelo

sábado, setembro 01, 2007



Peguei nos fios do teu pensamento e foi difícil tecer.
Esbates o volume,
Consegues afundar os montes na imensidão dos teus enleies,
Alimentas de palha as agulhas que te desejam,
Picas-te.
Ouviste o rasgar
Quando apenas seria uma fricção espontânea,
Pedi uma sombra mais larga e tu estendeste as copas até te tornares a manta mais sufocante.

As traças em ti não reclamam solidão.

Voas muito perto das tuas cores,
Cortas a respiração aos suspiros da imaginação.
Pedras no teu bolso que deixas ficar,
A intenção torna-se o teu lugar.
Miguel Ângelo