Miguel Ângelo

Quem sou eu

segunda-feira, março 20, 2006



Perdi-me ao contrário,
é pra não ser sempre da mesma forma,
perdi a norma.
Perdi-te ao contrário.
Ao contrário das outras perdas minimalistas,
das outras pedras, merdas...
Por de traz dos meus olhos a luz é complexa,
a luz é perversa ao ponto de se instalar.
É às cegas que digo eternamente que fui,
é às surdas que vejo.
Rodei-me contra ao vento sem meias nem pedais,
foi nua a ideia das veias reais,
foi crua (ideias mortais).
Lancei-me do alto da consciência e a queda não perdoou,
Vivi ao contrário.


Miguel Ângelo

domingo, março 05, 2006



Juro que anseio a colagem de nós,
Que quero que digas que o tempo é só nosso,
Que os homens se perdem e se morrem p’ra outros felizes.
Que as pernas se cruzem e deixem migalhas que brilham,
Que as pernas se cruzem e façam explodir.
Partam o azeite que me enjoa o caminho, te enjoa,
Que unam talheres a uma refeição desejada. Temperos de sempre,
Dissabores.

A janela do meu quarto já não abre igualmente, cada porta molhada mede mais que as que secam,
Cada cama que molho são pedaços de ti,
São pedaços de luz que a janela me rouba,
São pedaços de escuros caindo, nevando no corpo que deixas.
Quando me acordo já não sei voltar,
Já não me lembro do sol,
Já só recordo a primeira vez.
Quando te acordo, vejo e beijo a delicia do mistério,
Vou ao fundo saciado no sonho,
Encontrei-o no culto do sono,
Foram risos de esperança,
Lembranças ambíguas à saudade.

Minutos de segredo nos dedos que tenho,
Não venho p'ra sempre nem p'ra outro bocado,
Venho p'ra vida que tenho nos olhos,
Nos teus olhos.

Depois de saber onde estou,
Perdi-me.
Lembrei-me do longo, langa, lenga, de amor que envolvo por ti.
Lembrei-me do BUM BIM BAM daquilo que senti.
Eu sinto a minha hora passada, sinto que passas e que me passaste,
Roubaste.
Corta-me setas que enleio,
Corta-me muito mas cola-me demais.
Cola-te a mim.
O teu passo está tão longe do meu,
Mas o corpo resolve e formamos segredos.
São coisas complicadas as que vejo por ti...

No dia que não me faltares...
Não voltes.
És o contrário de nada... Porque as palavras são difíceis.





Miguel Ângelo

quarta-feira, março 01, 2006



Hoje vi-a...
Saída de uma carruagem dita transportadora de cidadãos, sai alguém que não tem, que não quer, que não vem.
Era ao longe sombra larga, mexida, sambando enchida de sacos, maletas disparatadas, companhias compradas p’ra disfarçar a solidão. Aproximando-se em saltos, em sons coordenados, vem saindo da sombra gargalhando alegria, despejando euforia, despejando conversa com sofás descartáveis, com lugares insufláveis furados ao pormenor.
Venho eu recheado, "perseguido" a pedido, misturado em sabores que todos queriam provar. Sabores dos loucos, suaves, olhares reluzentes sobrepostos aos mundos que dizem ser terceiros, expressões afundadas aos andantes vulgares, saídas aos deuses, deslizam criadas em corpos "perfeitos".
Eu vejo-a direccionada ao meu corpo anoitado, lá vem ela aluada, ensacada, engraçada querendo palavras saltando em cetim.
Cá está ela de passagem e a conversa vem fluir:

- Hahahaha (ri de boca cheia inclinando-se para traz. Vem cheia de sacos, sentindo-se estrela, é ela.)
- Não quer uma ajudinha? (diz meu corpo solidário)
- Respondeu que já comeu, já comeu tudo muito obrigado.

Mas que bela que está ela, reparei eu ("senhor. Romeu" de barba falsa) bem estonteado. A "menina" já rogada se encontrava em grande estado, demais pintada p’ra seu rosto, de lábio fino e batôn sobreposto. Falando no olho há muito a contar, é curto e escuro portando carência, iludindo o destino arrastando vivência. De pálpebra fina, curtinha, traquina seu olho é pintado de azul carregado, bem vasto e voado pelo rosto esbranquiçado em pozinhos de arroz.
Sobrancelha escurecida, acrescentada ao exagero, é ela viva ao seu tempero. Falei de novo a este povo:

- Onde vai dona pimpona, tão alegre e brincalhona, diga lá dona mulher, vai pintada e apressada à procura do que quer?
- Tenho um bar meu amiguinho, eu vou lá, vou lá eu, vou lá dançar amor do céu... (diz-me contente, sorri sem dente fazendo rir com pressa dir.)
- Nós vamos lá, Vemo-la cantar, vemo-la dançar, prometemos ir vê-la e faze-la actuar. (digo eu feito "Romeu" vendo ilusão naquele olhar, nas palavras vindas em choro)
- Haaa...ho000...hahah...nããããããooo (misturando expressões dando a volta a sensações p’ra tentar ler o que se vai ver) 1, 2, 3, 4... 6, iiiiii, são muitos, são bastantes....e então os meus restantes? (diz ela arrepanhada que os restantes da ninhada enchem tudo de empreitada)
É pequenino...é só meu... já não cabe amigo meu. Eu tenho pressa meu menino, até à vista, obrigadinho. Ahahaha (lá vai rindo, vai gingando conforme os anos, vai sonhando noutros planos pra que o mundo pareça melhor).
- Adeus adeus minha senhora, foi um prazer vê-la falar (já fui seu fã neste lugar. Lá vai sumindo pra outras sombras, subindo magia à vida fria que lhe deram a querer, a comer, a ter fome...)

O seu Cabelo era amarelo, era arame duro e pronto para que o próximo tonto viesse cheirar, mexer p'ra se picar nas formas longas e enroladas que a fazem ter e ser criada(s) no tempo outro que ninguém tem.
Impressionante é ver "amigas" destas que em plena guerra vivem festas, de cores nobres em florestas de chocolate e algodão.
Hhhaaaaaai...é de cartão a solidão,
A ilusão...




13.11.2005
Miguel Ângelo