Miguel Ângelo

Quem sou eu

segunda-feira, dezembro 26, 2005
















Este bolso vai sujo, e eu não suporto o “voo” de cegonhas depenadas cobertas em penugens tingidas pelo cuspo do ser azul.
Este som que oiço abafado pela ganga acetinada provoca-me tosses, tosses temperadas em rebeldia concentrada, contida pelo tempo fútil que vejo e tenho a sentir. Tenho a mentir o conforto passado ao exterior inaugurado por salivas cansadas, o colarinho lavado que mais vinha brilhando em migalhinhas sagradas, o bastão real que um dia foi palito anestesiado em cheirinhos povoais.
Eu posso RESPIRAR?
Permitem-me que eleve a tampa rugosa que “mandei” mergulhar, encaixar na base errada que tinha para lhe mostrar?
Não gritem sombras cabeludas, prometam ao fruto vosso que a semente não me explode. Move-te Deus, tu que enfeitiças pedaços falantes. Vomitei, desculpe.


Lisboa,
Madrid,
Paris,
Roma,
Londres,
Bruxelas,
Atenas,
Moscovo,
Budapeste,
Viena…….


Ai “coitado”! Centrado “empurrou” o Mundo coalhando no bolso o cálice viscoso que bolinhas de prata fizeram entornar. Provocadoras manhosas do reino mostrado. Cheira-me a chouriço queimado.
Ai MEU deus louvado…inspirou vermelhões liquidado em vontade cristalina, repentina foi a força que chupou de modo leve. Viscosa a fita que o trouxe de volta, começava a espiral enfeitada ao esforço pessoal que um bolso viu sair rasgado em trapinhos de arrependimento.

Reconhecimento.






Miguel Ângelo

domingo, dezembro 18, 2005




Rende-te...
O destino criou-te lindinha.
Segura ao tempo pensavas ser,
Segura é pedra que parte e não grita.
Pensavas crescer no topo,
Foi topo o altar causador de moles quedas.
Lá de cima a vista era imunda, só não era o mundo que vemos melhor,
Queres sair?
Rende-te ás sombras que puxam estalinhos de Outono,
Percebe que o sono é um sonho perdido,
É visita esvoaçante nos braços do Mundo.
Ameaças presentes no teu reino exterior,
Ou cais viva ou te partes em odores descartáveis.
Não são maleáveis…
Nas traseiras do vento o senhor Bento já se rendeu,
Nas traseiras da feira a senhora Oliveira …
Resistes e morres lutando?
E o bando que passa e te emborca na hora de enfeite?
Não sei se não deite esse rigor imaculado.
Rugidos de cima que voltam gigantes,
O clima e as cores não são como dantes que a chuva bailava e as quedas fugiam,
Por isso rende-te.
Desfolhadas inesgotáveis…




Miguel Ângelo

sexta-feira, dezembro 16, 2005



SEI Lá se respiro se o que oiço é chuva...
Sei lá se respiro se o que tenho é nada...
Sei lá se é isto aquilo a que chamam momento.
É ao ritmo das grandes gotas e agressivas que perfuram pezinhos brancos que meu corpo mexe, dorido mexe, deixando-se levar pela saudade viva.
No estreito destas paredes sujas que me evitam espreguiçar, movimentar sorrisos falsos que me pensaram contentar.
No chão frio branco nublado que meus dedos pensam limpar revirei pernas saradas, das mágoas, das tábuas que pensei ouvir.
Em luz falsa que ajudo haver vejo negro nos cantos que como, que durmo, que torno,
Meus cantos sozinhos ouvintes de chuva.
Sei lá se respiro se o vento que tenho é preto, é castanho...
Sei lá se respiro se os olhos não mexem...Não descem aos bixos que dançam por mim/ em mim com medo que o tempo me chame...
Pararam as gotas.
Mexeram-se vidas.
Perdi-me de sonhos chamados momentos aflitos sem pistas...

Miguel Ângelo

quinta-feira, dezembro 08, 2005




Escondi-me pequeno,
Parti-me em fragmentos sagrados divididos pelos poços que os alheios fizeram furar,
Encolhi-me rogado pela chuva turbulenta,
Sim, furei-me de negro....
Deixaste-me gotas entaladas na porta,
Deixaste-as tontas de sopros velhos contraditórios.
Não suporto não poder querer que os olhos matem,
Não suporto que o desejo fuja e fique revolta clonada em passos misericordiosos.
São passadeiras de plástico em que desfilam radiações robotizadas,
São passadeiras demais p'ra um mundo exprimido,
São demais as saias rasgadas em padrões comungados.

Miguel Ângelo

quinta-feira, dezembro 01, 2005



Sabes, já não vejo comigo o nervosinho que viste piscar, já não vejo comigo metade de mim depois de um dia saíres (isto se saís-te). Sim saís-te, eu é que fecho os olhos e não te vejo sair, não sinto, ou não quero. Porque minto ao teu instinto e à minha caixinha auxiliar? Porque insisto em querer que me respirem, todos me respirem, e que eu te respire? Porquê ainda o teu cheiro no meio de tantos?
"É mentira, estou a brincar....estou bem..."
É feio eu odiar? Desculpem. ODEIO-VOS.



Miguel Ângelo