Miguel Ângelo

Quem sou eu

sexta-feira, novembro 11, 2005




Fechei-me retorcido...
Contido em saudades ventosas meu corpo retorce,
Se torce criando sentidos de renda escura,
Contido em desejos que a luz não me trouxe,
Não me fosse ferir dedinhos cantados.
Deixei-me num canto em sombras criadas,
Nascidas em escadas pisadas por mim, por eles,
Por tantos outros que me deixam sujar.
Sentei-me rendido ao poder do insulto,
Instantâneo foi ser culto, foi parar,
Foi ficar e ser vulto num canto sangrado,
Sarado.
Pisei-me queimado do chão que me deste,
Que fizeste sem material,
Foi banal esse teu cheiro que te trouxe em jornal,
Em Saquinhos de lã cujo tom não se define,
Não se reprime.
Foi deprimente ver-me doente pelo sal que me rebenta,
Que me tenta ser ladrão,
Que me rouba tempo e pão do saco roto que me entregaste,
Que me pediste serpenteando em corpo quente,
Em corpo santo. Sozinho canto lendas estriadas,
Insaciadas de lenha e carvão, de quedas,
De meias de cão que o embrulho disfarça,
É farsa tudo o que toco e não sinto vibrar, não sinto.
Eu não minto ao instinto que a manhã me apresentou,
Me coordenou em meios segundos pra que o prato voasse,
Me levasse o que transporto e não suporto que se instale,
Que me fale,
Que me entale em portas sujas do óleo fresco que passaste,
E arrumaste sem pedir com vontade de fugir ás entradas principais.
Foi demais o retorcer de quem te viu um dia entrar,
Um dia atar em cordas brancas,
Um dia tanta p’ra me lembrar.
Um dia atei-me sem te pedir,
Sem te esperar fiz sacudir penas lidas ao pormenor,
Fiz-me encontrar sentado esperando vida de um degrau. . . . . .



Miguel Ângelo