Miguel Ângelo

Quem sou eu

domingo, novembro 27, 2005



Sei que te sinto,
Sei que me dói,
Sei que te toco ao extremo da minha sensibilidade.
Toco-te nos calos,
Toco-te nos pêlos lavados em electricidade emocional,
Toco-te nos dedos forrados em linhas,
Forrados sem mal.
Perco pedaços de mim,
Perco saliva,
Perco palavras perfumadas em tinteiros pessoais.
Perdi-me em degraus ondulados que a ventania social insistiu rebentar,
Perdi-me em nevoeiro,
Perdi-me em horizontes eternamente prazerosos.
Rendi-me entranhado em carne quente divina,
Em silêncios rosados,
Deslumbrados em cansaços produzidos em ninho,
Em vinho paixão derramado em caminho.
Perdi-te surpreso em vestígios nublados,
Perdi-te na casca do fruto suado,
Do fruto cristal enlouquecido.
Perdi-te dormente em ilusões marteladas,
Envolvidas em fumos sufocantes que me tingiram de sangue negro...


*Eu rebobinei flutuando em dias decapitados.
Será que não sabes que te trago no peito?
Será que não sabes que eu fui feito em ti?
Será que esta noite sonhei acordado?
Eu vinguei-me em ruídos, bem gritados ao tema.

Eu nunca te perdi...

Miguel Ângelo

quinta-feira, novembro 24, 2005



Pedi-te cores a mais.
Lembras-te?
Limpei-te em angustia mais negro que as folhas de cartolina preta que sabemos pedir, mais negro que as nuvens prontinhas a chorar, prontinhas p’rá música que nos molha menos a ti. Um dia deixei-te rolar pelas escadas do meu andar, se é que posso chamá-lo meu, porque meu, falando de um determinante possessivo masculino singular na primeira pessoa do sujeito, só tenho as cores que me deste, reforçando em espanhol,
“Nada más”. Nesse mesmo dia em que me fugiste das mãos apanhei-te caído, sim porque poderia ter-me dado na “veneta” e ter-te deixado caído, mas se não me deu foi porque um futuro pediu ao presente momento, que um dia fosse passado, ou foi porque tive vontade de algum dia ser criado? Não me parece exagerada hipótese, mas eu planto a primeira p’ra que cresça em sintonia ao andar de evolução.
Um dia lembrei-me que havias e vesti a minha melhor fatiota, aquela que nem sabia ter, pois o desleixo foi dominante na tua ausência inconscientemente marcada. Que insatisfeita descoberta o saber que sei vestir, mas porque é que tu tens esse poder em mim? Tens direito? Porque é que estás guardado à espera de me ver envaidecer? Eu não me lembrava de ter estado assim, não me lembrava de haver algo chamado cetim que se subestimava em elegância plástica, não me lembrava da malha pormenorizada em beleza banal, não me lembrava dos toques que agora me fazes puxar, sentir. Um dia apanhei-te e o tacto activou? Olha que nem o meu bisavô me contou historietas que activassem sentidos e gostos, só grandes desgostos devido a um senhor que o meu bisavô conhecia, safado seja ele, sua graça era Amor. Não sei mais nada sobre ele, lembro-me de ver entrar sons mansos e caros em meus funis despistados enfeitados com palavras tais: “ …irás conhecê-lo um dia…”. Deixe-mos o Amor, não acho bem tentar adivinhar pessoas que não conhecemos.
Uma noite dormia, refilando a palavra, eu apenas tinha os olhos fechados e as pestanas fazendo cócegas na almofadinha do elefante, aquela dos balões que me elevavam em sonos longínquos (que saudades, não entremos por aí, a saudade dá muito que falar, pensar, estudar…). Não me quero perder, não que não tenha quem me encontre, mas falando da noite em que os olhos representavam a peça mais desperdiçadora que alguma vez assisti, essa sim foi uma noite, daquelas que recordamos com gosto de chupa em sabor preferido. Lá ia eu levantando sem acordar a lua e outras festas da noite, sentia na planta do meu quente pé contraste de temperatura invadindo o sangue que meu coração faz por aqui dançar. Dei passinhos dos brancos passando o quarto e o corredor, cheguei à sala em esplendor silencioso e abri os olhos mais e maiores. É a hora do medo pousar, da ansiedade tentar, do desejo penetrar os poros largos que vejo em meu recinto, meu humilde sitio de viagens caseiras, de bagagens tripeiras em vectores reforçados. Avancei em direcção do local que te guardas, que te fartas de saber que vou buscar sem conhecer mínimas ondas de mar bravio, olho-te nada e em menos de pouco peguei em ti e abri-te.
Sugaste-me inteiro deixando marcas de cama em vestígios de cheiro, dedadas de crime em pedidos nocturnos, pedidos imensos perdidos na bolsa que em ti me envolveu.
Unifiquei dois olhares a dois corpos falantes p’ra pedir em noite dentro…
Cores a mais…

Miguel Ângelo




segunda-feira, novembro 21, 2005




Passinhos de côco levaram-me ao rio,
Fizeram-me rir,
Fizeram do suporte antigo e pedroso dos meus pés passerelle envernizada.
Fizeram das aves criações ilimitadas,
Fizeram do tempo estradas,
Fizeram-te sentada chamando-me calada.
Passinhos de côco encheram-me de vontade,
Saudade,
Desejo de então,
Desejo da vista do rio e das luzes urbanas,
Descalço e sem meias,
São feias as teias que hoje não vejo...
São passinhos de côco que tomam conta de mim.
Me elevam e alegram,
Me trazem cetim.
Aquele que toco ao ter-te em mim,
Que fundo,
Imundo de êxtase rosado,
Que quero safado
Sentindo que os passos são poucos p’ra mim.
Quero mais,
Quero mais,
Quero passos mais fortes,
Quero quedas,
Quero sortes...


Miguel Ângelo

sexta-feira, novembro 18, 2005





fechei os olhos p'rá saudade falar. . . . .





Miguel Ângelo

quinta-feira, novembro 17, 2005



agarrei-vos pensando que os dedos chegavam. . . .



Miguel Ângelo

sexta-feira, novembro 11, 2005




Fechei-me retorcido...
Contido em saudades ventosas meu corpo retorce,
Se torce criando sentidos de renda escura,
Contido em desejos que a luz não me trouxe,
Não me fosse ferir dedinhos cantados.
Deixei-me num canto em sombras criadas,
Nascidas em escadas pisadas por mim, por eles,
Por tantos outros que me deixam sujar.
Sentei-me rendido ao poder do insulto,
Instantâneo foi ser culto, foi parar,
Foi ficar e ser vulto num canto sangrado,
Sarado.
Pisei-me queimado do chão que me deste,
Que fizeste sem material,
Foi banal esse teu cheiro que te trouxe em jornal,
Em Saquinhos de lã cujo tom não se define,
Não se reprime.
Foi deprimente ver-me doente pelo sal que me rebenta,
Que me tenta ser ladrão,
Que me rouba tempo e pão do saco roto que me entregaste,
Que me pediste serpenteando em corpo quente,
Em corpo santo. Sozinho canto lendas estriadas,
Insaciadas de lenha e carvão, de quedas,
De meias de cão que o embrulho disfarça,
É farsa tudo o que toco e não sinto vibrar, não sinto.
Eu não minto ao instinto que a manhã me apresentou,
Me coordenou em meios segundos pra que o prato voasse,
Me levasse o que transporto e não suporto que se instale,
Que me fale,
Que me entale em portas sujas do óleo fresco que passaste,
E arrumaste sem pedir com vontade de fugir ás entradas principais.
Foi demais o retorcer de quem te viu um dia entrar,
Um dia atar em cordas brancas,
Um dia tanta p’ra me lembrar.
Um dia atei-me sem te pedir,
Sem te esperar fiz sacudir penas lidas ao pormenor,
Fiz-me encontrar sentado esperando vida de um degrau. . . . . .



Miguel Ângelo

terça-feira, novembro 08, 2005




Eu pinguei.
pinguei gotinhas de mim
Na noite em que o copo despeja,
Na noite que seja,
A gota que beija, que pinga de mim.
Pinguinhas de mim sonhadas por ti,
São gotas lavadas na lama,
São sexo,
São cama.
Eu que pingo
Na volta,
No chão,
Domingo
Ou não. Não molho o segredo que metros separam.
Não caio de medo,
Não caio mais cedo,
Não espero que o cubo me faça redondo,
Não espero se quero
Que a nuvem não passe.
Pinguinhas de ti, sim.
De mim são mentidas,
São rasgadas, são nascidas.
São gotas de ti que deito no leito que um dia nem tenho.
Mergulho no prado,
Do douro,
Do Sado,
Do Tejo encostado.
De mim é uma,
É o caminho que costuma,
É viagem,
É deslize,
É viragem que tive.
São por ti atraídas,
Por ti saídas
Entradas em vidas que fazem andarem.
Acesas te amam
Por terras que tramam.
Acesas me apagam
De estragos de tempos
Em que os sonhos murchavam.
São pingas distintas,
Unidas ao primeiro soltar. . . .


Miguel Ângelo

sexta-feira, novembro 04, 2005




Pegaste confiante num aliado ao teu poder.
Sem me aperceber vi-te fogoso
Ensaiando o passo nervoso que ninguém viu proceder,
Em brasa passavam-te ideias, sentidas ás magoas que fizeste conhecer,
Não temo coisas feitas, destinos, derrames, enfeites deslavados um dia escritos, cravados.
Fizeste fogo pegar, ao mar que nada lembra,
Ao céu que se aposenta,
Ao tempo que se enfrenta ao ver-te casado com labaredas acordadas ás horas registadas.
O teu fogo cheirou-me a seco,
Não tinha molho,
Não tinha vento.
Não foi forte essa "morte" que trabalhaste,
Constato que falhaste três madeiras na lareira,
Foste tu e a tua cadeira que penderam p'ró lado feio,
Não estou no meio mas anseio que serei virtude aos olhos de quem te ouviu,
Vão pena ter ao conhecer que a chama morre à vista cheia,
Em plateia surda ás interferências mudas que fazes parecer.
Aborrecido é repetir,
É de novo teres que ouvir,
Que o fogo não te beija, só te aleija braços direitos,
Abusos feitos/desfeitos.
Prazer é repetir,
Que não me queimas dedos limpos desejosos por não te tocar...


Miguel Ângelo

quinta-feira, novembro 03, 2005




Desfoquei-me p'ra não sentir as formas que te aleijam/me aleijam...


Miguel Ângelo