Miguel Ângelo

Quem sou eu

sexta-feira, dezembro 14, 2007



Paradoxos interrompidos durante a vertigem.
Sobre a corda que montaste os passos são desfocados, sinto a sola dos sapatos que não tenho, abro os olhos p’ralém do hábito, desencontro-me. Esta não é a minha casa, e a resistência sai-me nas gotas da testa, abri os braços a espera que o tempo me segurasse, olho para baixo, a ausência da vertigem terminou.
Paras tu e eu contigo, surge o desequilíbrio e a noção de lugar fica de fora.
O medo cai-me nos bolsos, os meus movimentos áridos tornam-se fundamentais à sobrevivência, o chapéu já me caiu, e os meus cabelos insípidos podem tornar-se bailados. A escrita deste caminho, sobre o fino solo sem lados nem fundo projecta salgados que me escorrem no rosto, cada contracção parece deixar-me agradecido, balanços na máxima incerteza distraem o “teu” caminho e cozem-me à chegada.





Miguel Ângelo

quarta-feira, setembro 26, 2007


Choram por dentro, de fora,
P'ra fora do peito que cabe no estreito coração de Luísa.
Descalça ela sobe de saia estendida,
de cara lavada,
cabeça erguida,
cabelo que voa,
ruas de Lisboa cafés de cristal.
Roubam por dentro e por fora,
Pra fora do jeito que cabe no peito de Luísa.
Calçada ela dança, balança e alcança o fresco do sol.
Demora na loja,
corpinho de soja que traz alimento
aos pombos da rua.
Agradam por dentro, por fora e p'ra fora do mar de Luísa.
São peixes de aquário,
são imaginário,
são do mostruário de conchas partidas.
Luísa nada,
beijos na almofada e sorrisos de lã.


Perdidas na vida,
as conhas partidas...


Luísa nada. No mar entranhada...
Miguel Ângelo

sábado, setembro 01, 2007



Peguei nos fios do teu pensamento e foi difícil tecer.
Esbates o volume,
Consegues afundar os montes na imensidão dos teus enleies,
Alimentas de palha as agulhas que te desejam,
Picas-te.
Ouviste o rasgar
Quando apenas seria uma fricção espontânea,
Pedi uma sombra mais larga e tu estendeste as copas até te tornares a manta mais sufocante.

As traças em ti não reclamam solidão.

Voas muito perto das tuas cores,
Cortas a respiração aos suspiros da imaginação.
Pedras no teu bolso que deixas ficar,
A intenção torna-se o teu lugar.
Miguel Ângelo

quinta-feira, março 29, 2007



Padecemos de forma elegante e subtil.

A penumbra dos raios solares vai afectando a cidade,
Esta noite não houve chuva, o rio não “tá di saco cheio”,
Os robôs flutuantes passam igualmente, voltam as gaivotas.
Vão passando os primeiros comboios, existem camas de pedra ou de madeira,
Já não se vê o fumo dos cigarros,
Acabou o bolo de chocolate,
Ainda sinto tudo e padeço contigo de forma engenhosa.

Um excesso de rotina apazigua
O sono que foi degolado.
Enrolam-se no corpo as linhas desenroladas, arrumam-se arrumadas as bagunças balançadas.
Já não há tempo de novo, e ainda agora voltou a nascer.
O perfume espirra de segredo, sente-se a prancha de primeira saída.

Humedecida a pele de carisma matinal,
sobem desafios à mente e eu desço os primeiros degraus.
Orvalho e aragem de prisma banal,
Coragem,
Corrida,
Mirada,
Jornal.
Sinais sonoros ensopados diariamente sem pormenor,
Pressas despercebidas,
Um expresso navegar para o outro lado.

A vista de pedra não pede atenção,
Passamos bem rente no meio das gentes que dizem que não,
Um tanto ou quanto multidão,
São cores e corpos que vão e regressam.

Padecem as mentes,descontentes, que trazem de volta as horas que foram.

Miguel Ângelo